POR UM TEATRO LIVRE E COMBATIVO
Neste DIA
INTERNACIONAL DO TEATRO relembramos a luta tão importante de todos os artistas
do mundo por uma arte livre e independente de qualquer tipo de imposição, seja
ela ideológica ou econômica, e a necessidade premente da revolução socialista
para liberar o homem e a arte dessas amarras. Esse é o espírito deste
manifesto.
Nunca a civilização humana esteve ameaçada por tantos perigos quanto
hoje. Os bandidos capitalistas, com o auxílio de seus meios bárbaros, estão destruindo tudo o que existe de mais
humano e belo sobre a Terra. Sobre os escombros de uma cultura milenar, o que sobrevive
são os valores mais ignóbeis: o egoísmo, a concorrência, o ódio, o preconceito,
a ganância. Neste tempo de guerra, de genocídio e limpeza étnica, a situação do
teatro tornou-se absolutamente intolerável.
Porque
é impossível desinteressar-se das condições mentais nas quais o artista
trabalha; não é mais possível garantir o respeito às leis específicas a que
está sujeita a criação intelectual.
O
mundo atual nos obriga a constatar a violação cada vez mais geral dessas leis,
violação à qual corresponde um aviltamento cada vez mais patente da obra de
arte e da personalidade “artística”.
A
arte verdadeira, a que não se contenta com variações sobre modelos prontos, mas
se esforça por dar uma expressão às necessidades interesses do homem e da
humanidade, tem de ser revolucionária, tem de aspirar a uma reconstrução
completa e radical da sociedade, para permitir a toda a humanidade atingir o
máximo de suas potencialidades intelectuais.
Não
dá mais para esconder: só a revolução social pode abrir a via para uma nova
cultura.
A
mercantilização à qual a arte está sujeita hoje merece a mais firme reprovação do
mundo artístico, porque estamos diante da negação desavergonhada dos princípios
aos quais a arte sempre obedeceu; ela deve dar lugar a uma condenação
implacável da parte de todo o teatro mundial.
Em
cada palco, em cada camarim, em cada coxia, a oposição artística deve florescer. Porque ela é hoje uma das forças
que podem contribuir para o descrédito e ruína dos regimes que destroem o
teatro, os mesmos que destroem o direito da classe explorada de aspirar a um
mundo melhor e todo sentimento de grandeza.
A luta
pela dignidade humana não teme a arte. Os artistas mais conscientes, antenados
com o que ocorre nas ruas de nossas cidades, aqui e em todo o mundo, encontram
aí a seiva de seu teatro.
Lembremos
as palavras do velho Marx: “O escritor deve naturalmente ganhar dinheiro para
poder viver e escrever, mas não deve em nenhum caso viver e escrever para
ganhar dinheiro. O escritor não considera de forma alguma seus trabalhos como
um meio. Eles são objetivos em si. A primeira condição do verdadeiro teatro consiste em não ser um ofício.
É preciso brandir essa declaração contra aqueles que pretendem sujeitar a arte
a fins alheios a ela, como são as imposições do dinheiro, desprezando a
liberdade artística e impondo os temas da arte.
A
livre escolha desses temas constitui para o artista um bem que ele tem o
direito de reivindicar como inalienável. Em matéria de criação artística,
importa essencialmente que a imaginação escape a qualquer coação.
Nenhuma
autoridade, nenhuma coação, nem o menor traço de comando! Os diversos grupos e coletivos
teatrais, aqui e no mundo inteiro, só podem desenvolver um trabalho fecundo na
base de uma livre amizade criadora, sem a menor coação externa, sem a menor
atadura, seja ela econômica ou política.
Ao
defender a liberdade de criação, não pretendemos de forma alguma justificar a alienação, o horizontalismo
político, a indiferença perante a realidade e os problemas com que nos
defrontamos. E longe está de nosso pensamento querer ressuscitar uma arte dita
“pura” que, na verdade, acaba servindo aos objetivos mais do que impuros da
reação.
Não,
nós temos um conceito muito elevado da função do teatro para negar sua
influência sobre o destino da sociedade. A tarefa suprema do teatro em nossa
época é participar consciente e ativamente das lutas de todos os povos do
mundo, que se levantam por um mundo melhor.
No
entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado
subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus
nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma
encarnação artística a seu mundo interior.
Viva o teatro! Que todos os pobres e
explorados do mundo possam assistir teatro, possam amá-lo e compreendê-lo e,
assim, lutar para salvá-lo das garras da burguesia e da ganância capitalista.
São
Paulo, 27 de março de 2014
DIA
INTERNACIONAL DO TEATRO
HOMENAGEM
DO GRUPO CENA LIVRE, da CSP-Conlutas