Manifesto Cultural São Paulo para os Trabalhadores


São Paulo pulsa 24 horas diárias a atividade humana trabalho. Cidade construída, inventada e mantida pelos trabalhadores. 
Cidade síntese das contradições e antagonismos desse país. Nas ruas de São Paulo, Praça da Sé ao Largo 13 de Maio; de Parelheiros a Grajaú, Capão Redondo a Itaquera, Pirituba e Brasilândia. De Cidade Tiradentes se chega ao Cambuci, Estação da Luz, Freguesia do Ó.  São Paulo que pulsa nas indústrias, nas construções, bancos e escritórios a atividade humana trabalho. Nos ônibus e no Metrô, linha amarela, azul e vermelha, energias enredadas na malha viária da produção crescente de riquezas para outrem. Na outra ponta se entrelaçam os interesses especulativos financeiros e industriais. É o local, nacional e internacional como síntese na cidade mundo. O sobretrabalho do explorado produz a Paulicéia Desvairada, a Paulista Centenária dos barões do café e das finanças, a Morumbi das mansões e palácios. É a mais-valia, é a mais-valia, extraída de centenas de milhares de operários.
Trabalho por salários distantes, muito distantes da riqueza acumulada nos bolsos, contas e Bolsa de Valores de poucos. Salários tão distantes como as periferias quase esquecidas e os Jardins, Morumbi e condomínios fechados, carros blindados e helicópteros fretados. Cidade que no trabalho marca um tipo de compasso das arquiteturas e avenidas que se distanciam e se metamorfoseiam nos sotaques e gírias que se diferenciam; nos carros importados e coletivos lotados; nas galerias e museus e nas escolas públicas depauperadas. Cada tijolo plantado, asfalto escorrido, peça produzida na arte aplicada na matéria-prima. Trabalho humano, energia materializada na construção da cidade.  Trabalho assalariado.
São Paulo se inventa nos rastros do passado no presente, trabalho de homens e mulheres, migrantes e imigrantes. Eles estão lá nas imagens de Tarsila, de Segall e Portinari. Já marcam a rebeldia operária de 1917: greve geral. Nos Santos Dias de luta, labuta a memória de luta, sangue e resistências dos nossos que tombaram. Marcas sob o chão em ossadas ainda não encontradas dos nossos desaparecidos. É memória de resistência que não concede aos horrores covardes da miséria, exploração e opressão. Que exige punição a todos os Paranhos de então e os de hoje. 
Cidade negra, mestiça, branca e amarela. É nordestina, nortista, mineira, sulista. Cidade mais-valia, nos prédios e construções. Cidade angolana, moçambicana: cidade africana. Cara, corpo e sangue produzidos na diversidade étnica e regional, em meio ao antagonismo social. É o batuque, o coco, diz o rap e o funk, é também o pagode. Boliviana argentina, chilena latino-americana. Cidade portuguesa espanhola, italiana, alemã. Libanesa, árabe, cidade palestina. Japonesa, coreana, chinesa. Cidade que não para de trabalhar.
Cidade mais-valia que moe gente feito carne, tritura até o bagaço, como dizia o Gregório em sua Pernambuco. O Haiti também é aqui. Populações sem beira nem eira, sem-teto, espalhadas pelos cantos só com cobertas de jornais. Terra da garoa, dos Demônios, que nas letras imortalizou hoje a pouco romântica Ipiranga com São João, dos modernistas Oswald e Mario, da comunista Pagu ao Solano que já dizia nos vieses da cidade  “tem gente com fome, tem gente com fome...”. Que nos espasmos dos prédios abandonados e vazios, centro histórico, no silêncio da noite vão sendo ocupados, “tem gente com fome”. Gente largada pelas ruas frias, se juntam famílias, pequenas bagagens, as tralhas e os cachorros,  os filhos. Os tecnocratas empresariais até já chamam de Nova Luz o que planejaram “revitalizar” no polígono São João, Ipiranga, Duque de Caxias, Rio Branco, eufemismo para dizer “higienização”, dito de outro modo, expulsão de populações. Querem continuar a maquiar a Cidade mais-valia como Cidade Turismo. Mas como dizia o poeta  é  “pra inglês ver”, turismo puro travestido de cultura.
Cidade que opera a lógica máxima do Capital e do lucro: a cidade dos ricos, do turismo cultural e dos negócios;  cidade com níveis de concentração de riquezas produzidas socialmente altíssimos e a eles se associam a concentração da produção cultural; cidade que impede o acesso da população ao que ela própria produziu ao longo da sua história. Cidade que pulsa mais-valia que é velada pela Cidade Vitrine. 

Cultura e Políticas Culturais em São Paulo:
Cidade dos trabalhadores. Cidade para os trabalhadores

 A questão da Cultura

Na atualidade cultura é entendida como coisa supérflua, adorno e entretenimento. Genericamente é produto (mercadoria) como livros, filmes, programas de televisão, ou então serviços comprados como espetáculo (show) de música, teatro, dança. Nesses casos cultura de massa ou de entretenimento. Mas tem outra ideia de cultura que ainda hoje é muito difusa que entende como cultura aquelas pessoas com educação, bons modos e etiquetas. Nesse caso cultura como “alta cultura”, cultura superior. É a chamada cultura da distinção.
Cultura é palavra antiga, muito antiga, antes mesmo do surgimento dos dicionários. Ela vem do latim antigo (colo, colore) e por muito tempo significou lavrar a terra: fazer brotar da terra o fruto. Por isso ainda hoje os termos agri-cultura, flori-cultura e outros ligam-se à terra e à atividade humana de cultivo do solo. Antes de tudo, portanto, cultura é a ação humana de cultivar algo, fazer brotar, criar, produzir. A palavra Cultura  está associada diretamente à atividade do trabalho. Isso envolve energia e conhecimento humano acumulado em gerações (o saber fazer) que se desenvolve na prática cotidiana de gerações anteriores. Um saber fazer que se enrosca na matéria-prima com a vontade de que dali germine uma  produção. É luta e sacrifício, queda de braço. Pela necessidade premente da sobrevivência, dar forma e vida ao que antes não existia.
 O termo cultura se transformou um pouco, passou a significar também   puericultura, o cultivo das crianças. Educação realizada sobre as crianças para que elas se tornassem adultos e cidadãos. Transmissão do que foi acumulado coletivamente pela experiência, sacrifício e dedicação de gerações anteriores. É a metáfora da criação material; agora como criação espiritual, isto é, transmissão de valores morais e conhecimentos para as novas gerações.  Sem essa experiência repassada das conquistas da humanidade não existe sociedade. Por essa razão, desde muito cedo o que designamos como cultura esteve associada à ideia de memória (lembrança), linguagem (comunicação e pensamento), educação (transmissão de valores e conhecimentos) e identidade (sentimento de pertencimento grupal).
Somente mais tarde, do século XVIII em diante, essa palavra passou a designar principalmente arte, filosofia, ciência e literatura. Neste sentido a ideia de cultura associou-se às esferas da produção humana que possibilitariam a formação intelectual, filosófica e estética dos indivíduos. Embora limitada à perspectiva liberal e burguesa da época, essa visão combatia os dogmas e a irracionalidade de crenças e crendices que limitavam a ação transformadora humana.  Ela também foi associada ao belo e ao sublime. Passou a servir como distinção social para as pessoas que eram “cultas” e “tinham” cultura. Tinham cultura porque obtinham “educação superior” e desenvolviam “bons modos” e etiquetas finas. A plebe, como eram considerados os trabalhadores, não tinha acesso a essa formação educacional considerada superior, portanto naquela visão aristocrática e burguesa não teriam cultura. O conceito cultura, portanto, foi separado da atividade humana e do produto que somente através do trabalho é possível gerar. Constituiu-se como marca de distinção social. Passou a significar que existiam  indivíduos, grupos e classes sociais (aristocracia e burguesia) que tinham cultura e os outros, classe trabalhadora, que não tinham. Decorre dessa distinção grandes preconceitos e discriminações de classe  muito acentuados até hoje.
O capitalismo engendrou como cultura um modo de vida e existência que pauta e regula as nossas vidas cotidianas, as formas de organizarmos nossos tempos, a maneira de trabalharmos, a maneira de comermos e dormirmos, os ritmos do nosso dia-a-dia. Tanto no trabalho operário nas indústrias, na construção civil; como também no trabalho do bancário nos bancos, do funcionário nos escritórios e dos professores nas escolas. O trabalhador perde de vista aquilo que produziu; desconhece então que tudo construído na história  é da sua conta porque é a sua classe a produtora. Passou a ver em seu parceiro de produção seu concorrente e até inimigo. A cultura do capitalismo gera então o individualismo, a competição, a divisão dentro da mesma classe! É esse modo e maneira de ser que é reproduzido na maioria dos programas televisivos – telenovelas, filmes e publicidade -, como também nas relações de trabalho onde vale para o patrão (o capitalista) o trabalhador “obediente” e “produtivo” que “não é encrenqueiro”.
O trabalho que gera a riqueza humana gera também a alienação econômica, ou seja, a riqueza concentrada nas mãos de poucos. Essa alienação econômica é acompanhada da concentração da cultura intelectual e estética de alta qualidade, isto é, as criações humanas que permitem o desenvolvimento de nossas sensibilidades críticas, no plano estético e filosófico. As criações científicas e artísticas de qualidade aparecem na sociedade capitalista como possíveis para todos. No entanto, somente uma pequena parte da sociedade tem o tempo necessário e a possibilidade econômica para ter acesso às significativas produções culturais produzidas no passado e no presente pela humanidade. O acesso sistemático e metódico aos conhecimentos científicos, artísticos e filosóficos é que possibilita inclusive superar criticamente  o já existente. Para a classe trabalhadora e grande parcela da juventude resta-lhe na sociedade capitalista a chamada “cultura massificada”.
Na atualidade, cultura é entendida como mercadorias culturais e serviços culturais especialmente voltados para o entretenimento. Algo raso para desencanar e remediar que não nos eleva em nossas sensibilidades, criticidade diante do mundo ou um olhar diferente sobre os problemas da humanidade. Passou a significar a novela das 9, o filme   alugado na locadora, o CD de tal músico. Virou muito o que se chama de cultura massificada para fazer rir ou chorar.  Especialmente essa indústria da cultura, que muitos chamam da “economia da cultura” (ou do entretenimento), que movimenta somas substanciais de dinheiro e é negócio lucrativo. Cultura enquanto produção artística orientada centralmente para o lucro e o consumo que rebaixa o caráter de inovação, da experimentação de novas formas poéticas, como também reitera a mesmice, o preconceito, a homofobia, o machismo, a xenofobia. No circuito comercial demarcado nas relações sociais capitalistas, essa é a tendência majoritária.
Cultura não é coisa que se encontra na prateleira de um supermercado ou na estante de uma livraria, ou na tela de cinema, ou no espetáculo de teatro ou de dança. Isso é somente o resultado final que se apresenta como produto cultural. Na sociedade capitalista, para os empresários cultura é mercadoria!
É necessário afirmar e repetir que cultura é modo de vida como também são as expressões artísticas, científicas e filosóficas. Não se limita a meros objetos/mercadorias; são principalmente expressões de caráter simbólico, subjetivo, valorativo porque envolvem noções difusas do certo e errado, bonito e feito, justo e injusto, bom e mal etc. que  orientam nossas relações sociais, comportamentos e modos de vida. Por isso envolvem memória e identidade social porque de maneira constante nos remetem à tradição de valores, modos de pensar e de fazer. Mas essas expressões simbólicas difusas não se limitam a reproduzir somente o passado. Envolvem-se também na criação e transformação. Por essa razão são produzidas e reproduzidas, mas também inventadas e reinventadas, criadas e transformadas. Faz parte da vida da classe trabalhadora, ou seja, encontra-se no seu cotidiano, no seu dia-a-dia, como também das outras classes sociais.
Cultura não é pão e circo! Não é a visão empresarial que considera Cultura como negócio e/ou mercadoria! Porque Cultura é modo de existência, invenção e criação, mais do que isso é vontade de mudar. Existência que se inventa/reinventa/resiste à massificação cotidiana imposta pela reprodução capitalista, pela alienação do trabalho, pela ideologia do vencedor. A cultura se apresenta nas expressões que marcam os acordes da viola, as estrofes do cordel, a rima pesada do rap, o verso fino do poeta. Está na mais íntima expressão das cores nas artes plásticas, nas galerias e museus, como também nos viadutos com o grafite. Registra-se em todo Sarau quando reinventa a poética da Cidade. Está presente nos sons apurados da Orquestra Sinfônica, na métrica construída na plasticidade do Corpo de Ballet Clássico, na invenção mágica das imagens do cineasta. Atividade humana, trabalho apurado na matéria prima da sensibilidade, no domínio técnico de uma linguagem. São expressões que saem da vida, de modos de vida e de trabalhos, e somente existem em razão da atividade de milhões e milhões. É o que se cria enquanto se resiste à lógica perversa do Capital, no bom deboche e escracho, na gíria, no riso sarcástico na sofrida melodia do ônibus lotado, do Metrô empilhado, do salário apertado e com o xingo do patrão.

Cultura e  políticas públicas culturais: por que e para quem?

 A dimensão da cultura que nos interessa situa-se no âmbito da construção coletiva e inovadora nas relações sociais e políticas e que nos põem em contato com novas possibilidades e formas de fazermos e criarmos o mundo. Perspectivas que nos apontam modos de vida e existência que não simplesmente reiteram o já dado, a mesmice alienadora. A cultura e a produção cultural que aqui nos importam são aquelas que nos indagam, nos questionam, nos projetam para continuamente repensarmos nossos valores, referências, mesquinharias e individualismos que nos são impostos como “verdades” desde nossas infâncias por meio da família, escola, igreja, e meios de comunicação. Questionam aquelas “verdades verdadeiras” que nunca na vida paramos para questionar e que sempre orientaram nossos comportamentos diante dos outros. Essas “verdades” são aqueles velhos preconceitos e discriminações que nem sabemos de onde vem: “homem não chora”, “mulher minha não trabalha”, “você sabe com quem está falando?”, “que fazer, deus quis assim...”, “nóis é nóis e o resto é merda...”!!! Velhos preconceitos e discriminações que nos dividem enquanto trabalhadores, nos separam por valores e ideologias que não são os nossos.
As políticas públicas de cultura devem voltar-se centralmente para a constituição de uma perspectiva crítica e ativa dos indivíduos no processo social, político e cultural enquanto protagonistas de transformações políticas, sociais e culturais. Precisam se articular com as políticas públicas municipais de várias áreas (Educação, Planejamento Urbano, Esporte, Patrimônio Histórico), como também se apoiar exclusivamente nos recursos públicos, de âmbito municipal, estadual e federal. Como premissas principais presentes em seus objetivos encontram-se: (a) constituição de sensibilidades e consciência social orientada por valores de solidariedade contrapondo-se à degradação social e cultural decorrentes da mercantilização da vida humana e da cultura da concorrência e do individualismo presentes massivamente nos meios de comunicação e cotidianamente incentivadas pela ideologia liberal e capitalista; (b) questionar e contrapor-se às múltiplas expressões do autoritarismo presentes na Cidade, ao exemplo das relações e valores orientados pelo machismo, homofobismo, discriminações e preconceitos contra os grupos regionais, étnicos e  a classe trabalhadora; (c) estimular as sensibilidades em torno das transformações na vida social como decorrentes da atividade humana coletiva dos trabalhadores e da juventude; (d) possibilitar aos grupos e áreas artísticas e culturais e aos grupos emergentes de áreas artísticas o seu pleno desenvolvimento.
O Estado não é o produtor de cultura. São os trabalhadores e a juventude  protagonistas centrais dos processos culturais na sociedade, que preservam e recriam continuadamente suas identidades sociais, reinventam  modos de vida e existência, como também suas expressões artístico-culturais. De acordo com suas forças e conjunturas políticas resistem coletivamente com suas memórias e tradições de classe à massificação cultural imposta pela indústria cultural e o lixo dos meios de comunicação de massa.  Mas cabe  ao Estado, no caso à Prefeitura Municipal, ao governo estadual e federal,  possibilitar a dinâmica cultural, por meio do estímulo à criação, acesso e fruição às múltiplas expressões da cultura, por meio de recursos orçamentários, funcionários públicos concursados e capacitados na área e equipamentos culturais. A possibilidade de produção, experimentação, acesso e fruição das múltiplas produções culturais (artística e científica) deve garantir aos trabalhadores e juventude amplo acesso gratuito à produção cultural de ponta existente não somente na Cidade, como também no país e internacional, clássica e contemporânea.
As prioridades culturais da Cidade devem ser desenvolvidas com infra-estrutura, recursos humanos e orçamentários públicos (estatais) e orientadas por ampla e permanente discussão popular nas várias regiões do município através de Conselhos Locais de Cultura que possibilitem amplos debates, mapeamento das condições locais, e definições dos eixos prioritários na região, e que deságuem periodicamente em Congresso Municipal de Cultura constituído por representantes escolhidos democraticamente em Assembléias dos Conselhos Locais de Cultura. Do Congresso Municipal de Cultura serão elaboradas as Diretrizes de um Programa Municipal de Cultura.

O lugar que a Cultura ocupa no país e na cidade de São Paulo
 A Constituição brasileira de 1988, em seu art. 215, afirma que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”, no entanto esse artigo, no Brasil e no município de São Paulo, é letra morta. Basta examinar o quadro do Orçamento Geral da União nos últimos anos, para verificar o descaso com a cultura e suas consequências para a população. Enquanto o governo federal reservou, em 2011, 45,05% do orçamento para pagamento de juros e amortizações da dívida, coube minguados 0,04% à Cultura. Examinando os dados, vemos que o valor reservado para a Cultura vem diminuindo enquanto o destinado ao pagamento de juros e amortizações da dívida vem crescendo progressivamente. Não precisa ser nenhum especialista, para perceber que os recursos para o pagamento da dívida estão sendo retirados das áreas sociais e, especialmente, da Cultura.





 Relação recursos federais para Cultura e pagamento da dívida pública[1]
Ano
Porcentagem reservada ao
pagamento de juros e
amortizações da dívida
Porcentagem reservada à
Cultura
2008
30,57%
0,06%
2009
35,57%
0,06%
2010
44,93%
0,06%
2011
45,05%
0,04%
Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida
 A reduzida verba é responsável pela desastrosa situação da Cultura no país, conforme dados fornecidos pelo IBGE em pesquisa sobre o tema publicada em 2007 e realizada em 5.564 municípios brasileiros:
 Situação dos equipamentos culturais no país[2]
Porcentagem
Situação dos municípios no Brasil
10%
não têm uma biblioteca pública
76%
não têm nem um centro cultural
79%
não têm nem um teatro ou sala de espetáculos
92%
não têm uma única sala de cinema
42%
declararam não ter uma política cultural definida e apenas 5,6% dos municípios têm uma  legislação própria de incentivo à Cultura.
Fonte: IBGE.
Em contrapartida, a TV aberta cobre 95,2% dos municípios brasileiros.  A falta de espaços culturais deixa os trabalhadores reféns dos programas da TV aberta, cuja programação se restringe a novelas que veiculam valores, modelos e costumes típicos da sociedade de consumo; a jogos de futebol e seus desdobramentos, cuja função se esgota no entretenimento; a programas humorísticos, cuja tônica é o preconceito; a programas como Silvio Santos, Big Brother, etc. que procuram alimentar a ilusão de ascensão social por intermédio da sorte; a programas sensacionalistas, em que os apresentadores se comportam como defensores da população quer na esfera da segurança, como Ratinho, quer na esfera do consumo, como Russomano; mas que, na verdade, funcionam como verdadeiras plataformas eleitorais; em síntese, uma programação voltada para o cultivo de valores, preconceitos e ilusões que constituem o processo de alienação.
Essa situação tende a se agravar, pois a população sofrendo com problemas crônicos de emprego, saúde, educação, transporte, habitação, entre outros, mal consegue se organizar para reivindicar os bens culturais a que tem direito. A única resistência vem de alguns heroicos setores artísticos que, ano após ano, denunciam a falta de verbas para a área.”

As leis de incentivo – um capítulo à parte
 Se, por um lado, o pagamento da dívida é o grande responsável pela irrisória verba destinada à Cultura; por outro, as leis de incentivos fiscais excluem os trabalhadores do acesso à produção cultural da cidade.
 Iniciadas no governo Sarney, as leis de incentivo fiscal foram introduzidas à medida que diminuía a aplicação de recursos públicos diretos na área. Elas permitem que, no âmbito federal, estadual e municipal, empresas ou pessoas físicas abatam integralmente ou parcialmente, nos impostos, valores destinados a apoiar projetos culturais. Os recursos financeiros oriundos de renúncias de receitas fiscais, na esfera federal, são: Lei Rouanet (Lei nº 8.313/1991), Lei do Audiovisual (Lei nº 8.685/1993), Medida Provisória nº 2.228-1/2001.
A Lei Rouanet e os demais dispositivos legais nas mãos das grandes multinacionais e das indústrias nacionais significam isenção de impostos para aplicação em propaganda, ou seja, os contribuintes – pessoas jurídicas – podem  “abater no imposto de renda até 30% ou 40% de valores alocados em projetos culturais sob a forma de patrocínio ou doação”. As empresas deixam de pagar impostos e o utilizam na divulgação de sua marca. Além disso, é prerrogativa das empresas escolher os projetos que serão patrocinados, o que introduz um elemento perverso no meio artístico: os agentes culturais devem se dobrar aos critérios dos patrocinadores. Em outras palavras, o setor privado define o perfil dos projetos culturais. Não é preciso dizer que, como resultado dessa prática, temos inúmeros projetos vinculados à indústria cultural de massa e ínfimos projetos consequentes.
No município, a situação não é diferente. A Lei Municipal nº 10.923/1990 deixa claro como o “empreendedor” poderá abater o pagamento de impostos:

 “Art. 1° - Fica instituído, no âmbito do Município de São Paulo, incentivo fiscal para a realização de projetos culturais, a ser concedido a pessoa física ou jurídica domiciliada no Município. 1° - O incentivo fiscal referido no "caput " deste artigo corresponderá ao recebimento, por parte do empreendedor de qualquer projeto cultural no Município, seja através de doação, patrocínio ou investimento, de certificados expedidos pelo Poder Público, correspondentes ao valor do incentivo autorizado pelo Executivo. 2° - Os portadores dos certificados poderão utilizá-los para pagamento dos impostos sobre serviços de qualquer natureza - ISS e sobre a propriedade predial e territorial urbana _ IPTU, até o limite de 20% (vinte por cento) do valor devido a cada incidência dos tributos.”

O estudo de Maria Aparecida Alves, “As implicações das leis de incentivo à cultura sobre o processo de produção dos espetáculos no Theatro Municipal de São Paulo”, fornece dados relevantes quanto ao montante de recursos captados pela Lei Rouanet entre 1993 e 2008:





















Gráfico 1 – Evolução do volume de recursos captados através da Lei Rouanet entre 1993 e 2008.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Ministério da Cultura (Brasil, 2009).
As chamadas “leis de incentivo” são, pois, suporte da privatização indireta da Cultura. São mecanismos sofisticados de transferência do dinheiro público para as empresas privadas, que passam assim a gerenciar os “negócios da arte”. As empresas privadas “investem” na arte – organizam megaeventos, sobretudo – e abatem do montante envolvido parte dos impostos. Não é raro o superfaturamento nessas transações milionárias, sem contar o retorno de mídia para essas empresas, que passam a se intitular, com o apoio do governo, de “empresa amiga da cultura”. A classe trabalhadora, por sua vez, é a grande prejudicada, porque a arrecadação de impostos que poderiam ser aplicados em áreas sociais diminui e, ela não pode usufruir dos produtos culturais oferecidos dado o preço dos ingressos.
Programa Municipal de Fomento – É preciso avançar
 O Programa de Fomento ao Teatro no Município resultou diretamente das mobilizações e da luta política dos artistas, especialmente teatrais, e ganhou a rubrica de Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo (Lei 13.279/2002).
O início das mobilizações situa-se em 1999, em reuniões com grupos teatrais, atores e intelectuais ligados à área cultural. A partir de então foi produzido o primeiro Manifesto Arte Contra a Barbárie, que se contrapunha à mercantilização da cultura.  O contexto histórico, no caso de São Paulo, é de grande mal estar sobre os destinos culturais da cidade, as dificuldades de sobrevivência de artistas e grupos teatrais.
A pauta central baseou-se na reivindicação de fomento para a cultura e na crítica à concepção de cultura como mercadoria. Em 2002 é aprovada a Lei tendo como eixos importantes: destinação de verba anual de R$ 6 milhões para até 30 grupos teatrais escolhidos por comissão julgadora; contrapartida social; trabalhos em continuidade com pesquisa etc. Em 2005, com a eleição de Serra, ocorreu uma tentativa de barrar essa lei de fomento, considerando-a inconstitucional. Novamente, os artistas teatrais e grupos mobilizam-se e conseguem nova vitória.
Muitos pesquisadores, artistas e grupos teatrais consideram que essa lei foi uma vitória para a categoria e permitiu mudar o cenário cultural de São Paulo:
 1º) Foi possível a partir de então estabelecer e estabilizar muitos grupos teatrais importantes que vinham emergindo no cenário teatral dos anos 1980 e 1990.
2º) Possibilitou o desenvolvimento da atividade de pesquisa de linguagem teatral, experimentação de dramaturgias, e desenvolvimento contínuo do trabalho coletivo, além é claro de possibilitar apresentação dos trabalhos com ingressos relativamente “baratos” e em circuitos relativamente distantes do centro;
3º) Esse novo cenário podemos observá-lo em regiões centrais de São Paulo, Praça Roosevelt, Rua Teodoro Baima, Av. Consolação, onde se localizaram diversos teatros de grupo: Parlapatões, Ivo 64, Teatro Fábrica/Coletivo, Teatro Arena e outros. Desse conjunto de produções, alguns grupos sobressaem-se em termos de apuramento de linguagem, experiências dramatúrgicas inéditas no teatro brasileiro, além do desenvolvimento de uma proposta teatral dialética e com profundo domínio da perspectiva brechtiana. Sem essas condições de apoio ao teatro, não haveria condições desses grupos desenvolverem trabalho de ponta em sua área.
Mas nem tudo são flores. São trinta projetos escolhidos , em dois editais anuais. De acordo com o estudo de Iná Camargo e Doberto Carvalho (A luta dos grupos teatrais de São Paulo por políticas públicas para a cultura. Cooperativa Paulista de Teatro, 2008), nos trezes editais realizados entre 2002 e 2008, foram contemplados com o fomento 192 projetos (93 núcleos artísticos) do total de 1296 projetos inscritos!! Em dados que levantamos recentemente verificamos que esse funil é contínuo. No 18º Edital, primeiro semestre de 2011, foram apresentados 69 projetos e selecionados 19 projetos.
Por outro lado, a Comissão Julgadora composta por 07 integrantes é constituída com a indicação direta de 04 membros pelo Secretário da Cultura e 03 indicados pela categoria profissional: “quatro membros nomeados pelo Secretário Municipal de Cultura, que indicará, dentre eles, o Presidente”, “três membros escolhidos por meio de votação dentre os constantes de lista indicativa com até seis nomes, apresentada por entidades de caráter representativo em teatro, de autores, artistas, técnicos, críticos, produtores, grupos ou empresários teatrais” (vide 19ª edital, 2011). Isso possivelmente trouxe distorções acentuadas na escolha dos projetos. Ainda assim, a categoria teatral parece considerar que essa Lei foi uma grande vitória para a categoria.
As outras Leis de Fomento no Município tiveram gêneses distintas da do teatro. A Lei de Fomento à Dança (Lei 14071/05) não resulta de mobilização da categoria, mas de apelos, reivindicações pontuais junto ao então prefeito José Serra e vereadores. É qualitativamente diferente sua constituição. Nela não está destinada uma verba orçamentária para a área. O Fomento ao Cinema, por sua vez, não tem uma legislação específica no município, ficando ao “deus dará” das migalhas palacianas.
Por fim, o fomento intitulado “Programa para a Valorização de Iniciativas à Cultura” (VAI) cabe rapidamente descrevê-lo. Criado pela Lei Municipal nº 13.540/03 e regulamentado pelo Decreto nº 43.823/03, objetiva atingir as iniciativas culturais de jovens de baixa renda, entre 18 e 29 anos, e moradores de regiões da cidade com deficiência no acesso aos equipamentos culturais. Essa Lei não está vinculada a um recurso anual específico, pois os valores sempre estão sujeitos a alterações, “conforme disponibilidade orçamentária”. Os editais são anuais. Se pegarmos o 9º Edital, de 2012, os valores estimados para o edital são de R$ 3. 100.000,00. Cada projeto pode obter o valor máximo de R$ 23.000,00 para ser executado em prazo máximo de 8 meses no ano vigente. Cerca de 140 projetos são aprovados anualmente.
Supondo que o grupo consiga fechar adequadamente o projeto, com todo o rigor metodológico exigido pela Secretaria de Cultura, cabe ser aprovado pela Comissão Julgadora constituída por 16 membros indicados pelo Secretário da Cultura. Como é apresentado no 9º Edital (2012), “será nomeada pelo Secretário Municipal da Cultura uma comissão de avaliação de Propostas formada por 16 (dezesseis) membros titulares, sendo 8 membros do governo e 8 integrantes de organizações da sociedade civil com atuação cultural, convidados pelo Secretário Municipal de Cultura”.
Tudo isso nos leva a crer que, numa cidade de mais de 11 milhões de habitantes, as iniciativas de fomento à Cultura estão muito aquém da necessidade.
A cultura pela cidade de São Paulo
A situação cultural no município segue caminho semelhante ao que esboçamos sobre o país. Na capital paulistana certamente concentram-se as principais instituições culturais privadas do país, como também é um município privilegiado em recursos e incentivos culturais estatais (federal, estadual e municipal) por meio da “renúncia fiscal”, que comentamos anteriormente. A Prefeitura orienta-se especialmente na concepção da cidade como polo turístico; essa concepção articula os recursos orçamentários e as políticas culturais principalmente para a perspectiva de serviços. Como verificaremos tal concepção acentua sérias distorções estruturais na área Cultural. 
O maior orçamento, entre os municípios do Brasil, não garante situação privilegiada para políticas culturais voltadas para os trabalhadores e seus familiares que demograficamente concentram-se nas regiões periféricas do município. Ao contrário, examinando os valores reservados para a área, vemos que eles diminuem ano a ano.
Relação entre Orçamento Anual do Município e os recursos para Cultura[3]
Ano
Total da Receita
Valores             (%)
Secretaria de Cultura
Outros Fundos ligados
à Cultura*[4]
2007
21.512.767.223 (100%)
233.984.850 (1,08%)
11.578.524 (0,53%)
2008
25.284.792.148 (100%)
302.567.860 (1,19%)
16.426.352 (0,65%)
2009
27.506.290.062 (100%)
297.539.291 (1,08%)
17.941.251 (0,65%)
2010
27.897.832.339 (100%)
302.514.581(1,08%)
5.230.000   (0,19%)
2011
35.662.810.875 (100%)
337.233.019 (0,94%)
11.816.000 (0,33%)
            2012
38.734.598.114 (100%)
292.438.342 (0,75%)
  8.349.000 (0,21%)
Fonte: Lei de Orçamento Anual  -
Verificamos que o Orçamento Anual do Município tendencialmente tem crescido entre 2007 e 2012, embora a Receita para a Área da Cultura siga uma trajetória inversa. Em 2012 significou 0,75% do orçamento geral do município.
Como na instância federal, a verba da Cultura diminui enquanto a destinada à Terceirização/Dívida/Transferências cresce significativamente. Comparando os dados de 2011 e 2012 em bilhões de reais, percebe-se que a verba destinada à Cultura está muito aquém das demais de Investimento Social e anos luz da reservada para a Terceirização/Dívida/Transferências:
Distribuição de recursos* entre áreas sociais Educação, Saúde e Cultura
e Terceirização/Dívida/Transferência – 2011 e 2012[5] - em bilhões de reais
SETOR
2011
2012*
EDUCAÇÃO
7.028
7.307
SAÚDE
5.883
5.599
CULTURA
    455
   292
TERCEIRIZAÇÃO/
DÍVIDA/TRANSFERÊNCIAS
16.013
18.763
Fonte: Relatórios Anuais da Prefeitura de São Paulo.
*Conforme dados da Lei Orçamentária de 2012
 A reduzida verba para a Área Cultural concorre para uma profunda concentração e distorção na Cidade de São Paulo. É produzida estruturalmente uma concentração dos equipamentos culturais nas regiões centrais do município, em detrimento das regiões periféricas da cidade.  Dos 96 distritos da Capital, agrupados em 31 subprefeituras, a maior parte não tem  equipamentos culturais, conforme quadro elaborado a partir dos dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Cultura em 2009 e publicados pela Rede Nossa São Paulo em 2010:
Relação de distritos municipais e equipamentos culturais[6]
Porcentagem dos distritos
Indicadores culturais
61% dos distritos
não têm Centros Culturais, espaços e casas de cultura
61%
não têm cinemas
74%
não têm museus
56%
não têm teatros
54%
não têm salas de show e de concerto
44%
não têm pontos de cultura
Fonte: Rede Nossa São Paulo
Acresce-se a isso outro elemento importante. Com a reduzida verba, a Secretaria de Cultura responde por pequena parte dos equipamentos culturais (15,38%), enquanto a maior parte está nas mãos da iniciativa privada (76,64%). Para se ter uma ideia dos equipamentos culturais disponíveis no município de São Paulo recorremos ao quadro elaborado pela Sempla e publicado na série Município em Mapas. Ainda que haja alguma defasagem, pois a publicação é de 2006, o quadro permite verificar que a rede particular detém a maioria das salas de cinema, teatro, galerias de arte e espaços para espetáculos musicais e teatrais, situação que se mantém até hoje:
 Equipamentos culturais públicos e particulares no Município de São Paulo -  2009[7]
CATEGORIAS
REDE MUNICIPAL
REDE PARTICULAR
OUTRAS REDES
(ESTADUAL E FEDERAL)
TOTAL
Bibliotecas
Infanto-Juvenis
37
0
0
37
Bibliotecas Públicas*
57

3
60
Centros Culturais,
Casas de Cultura,
Espaços Culturais
19
38
14
71
Galerias de Arte
4
148
5
157
Museus
17
45
45
107
Salas de Cinema
2
279
2
283
Salas de Teatro
16
180
17
213
Teatro e Cinema nos
 CEUs
21
0
0
21
Salas e Espaços para Espetáculos Musicais
e Teatrais

9

242

11

262
Unidades Especiais da PMSP**
5
0
0
5
TOTAL
187 (15,38%)
932 (76,64%)
97 (7,97%)
1.216 (100%)
Fonte: Cadastro de Equipamentos Culturais – Sempla/Dipro - 2006
* Inclui as 21 bibliotecas instaladas nos Centros Educacionais Unificados/CEUs até 31/12/2006.
**Balé da Cidade de São Paulo, Escola Municipal de Bailado, Escola Municipal de Iniciação Artística e Orquestra Experimental de Repertório.
 Uma das características da rede de equipamentos culturais em São Paulo, portanto, é a forte presença do setor privado como investidor e mantenedor de grande parte dos equipamentos. Em relação às salas de cinema e teatro, ou às galerias de arte, por exemplo, a quase totalidade dos equipamentos é de propriedade privada. Na rede privada, destacam-se o Centro Cultural Banco do Brasil, o Itaú Cultural, o Instituto Moreira Salles, o Instituto Tomie Ohtake e a Rede  Sesc São Paulo. O que nos chama a atenção é que são majoritariamente instituições culturais vinculadas ao capital financeiro que associaram suas imagens a “mecenas culturais”, “protetores” e incentivadores da cultura. Mas ao contrário essas instituições desenvolveram-se às custas de polpudas “renúncias fiscais” concedidas pelos governos federal, estadual e municipal, especialmente a partir da década de 1990. A rede de equipamentos dessas instituições culturais concentra-se em salas de cinema, teatro e espetáculos musicais, galerias de arte e pesquisas culturais, além de auditórios para palestras e conferências. Em todos os casos articulam-se em excelentes espaços arquitetônicos, multifuncionais, que permitem eventos artísticos e culturais simultâneos.
Além desses espaços privados das instituições financeiras culturais,  existe um conjunto de galerias de arte particulares com espaços para mostras e exposições que  movimentam significativo mercado de arte. Alguns bairros concentram a maior parte dessas galerias, especialmente aqueles situados na subprefeitura de Pinheiros, como Jardins, Vila Madalena e Itaim-Bibi. A subprefeitura Sé também se destaca como área de localização privilegiada para as galerias de arte, notadamente os bairros da Consolação, Bela Vista e Santa Cecília. Nas demais áreas da cidade a presença desses equipamentos é muito dispersa, sendo praticamente ausente em  bairros periféricos.
Deve-se considerar que a concentração apontada de equipamentos culturais no setor privado (76,64%) em relação ao setor público (33,36%) desdobra-se em outro grave problema  de distorção cultural. A distribuição espacial dos equipamentos culturais inversamente relaciona-se à distribuição social da classe trabalhadora nas regiões periféricas da cidade. Ou seja, os equipamentos vão escasseando na medida em que se distancia geograficamente do centro da cidade, praticamente inexistindo onde se concentra demograficamente a maioria da população trabalhadora paulistana. A população que literalmente faz pulsar 24 horas por dia a “São Paulo que não pode parar”, tem reduzido acesso à produção cultural em suas regiões de moradia!!
Na tabela abaixo é possível verificarmos a concentração de equipamentos culturais em  regiões centrais da Cidade. É importante considerar que, mesmo nas regiões centrais onde se concentram os equipamentos culturais, ainda assim esses são em número baixo se considerarmos as populações dessas regiões. Observa-se também que existem regiões como a subprefeitura de Parelheiros, Ermelino Matarazzo,Cidade Ademar, entre outras, onde não existe nenhum Centro ou Casa Cultural, cinema ou teatro.

  Relação entre população  e distribuição de equipamentos culturais nas subprefeituras  - 2010

  
SUBPREFEITURAS
População
Município
Centros Culturais ou casas
de cultura
Cinema
Teatro


Total


E

F

P

Total

M

E

F

P

Total

M

E

P
Município SP
11.253.503
     90
25
18
1
46
332
3
1
1
327
246
18
18
210
















431.106
  33                            
3
8
1
21
  53
2
 -
-
  51
131
 8
13
110
Pinheiros
289.743
14



14
  51



  51
  30
1
  1
  28
Vila Mariana
344.632
   5


2
3
  19


1
  18
  12
1

  11
Lapa
305.526
   6
2
2

2
  22



  22
   24
1
  2
  21
Santo Amaro
238.025
5
3


2
  41



  41
    7
2

    5
Itaquera
523.848
2
1
1


  24



  24
    1


    1
M Boi Mirim
563.305
3
2


1
  -
-
-
-
    -
    -
-
 -
-
Itaim Paulista
373.127
2
2



    2



    2
    -
 -
 -
   -
Moóca
343.980
2
1
1


  25



  25
   13
 1

  12
Jabaquara
223.780
2
1


1
    -



    -
    2


    2
Butantã
428.217
3
1
2


  13

1

 12
    3

   2
    1
Ipiranga
463.804
1
1



     9
 1


    8
    3


    3
Capela do Socorro
594.930
1
1



    4



   4
    2


    2
Freguesia/ Brasilândia
407.245
1
1



   -
-
-
-
   -
    -
-
-
   -
São Miguel
369.496
1
1



    -
 -
 -
-
   -
    -
 -
  -
   -
Penha
474.659
1




    8



   8
    4


    2
Aricanduva
267.702
1

1


    9



   9
    4
 1

    3
Casa Verde/  Cachoeirinha
309.376
1
1



   -
 -
-
-
   -
    -
 -
 -
  -
Parelheiros
13.441





 -
-
-
-
 -
    -
 -
 -
   -
Ermelino Matarazzo
 207.509





  -
  -
 -
 -
 -
 -
 -
  -
   -
Pirituba
437.592
1

1


  -
 -
-
-
-
-
-
 -
  -
Campo Limpo
607.105
1
1



 23



23
1


 1
São Mateus
426.794





  -
 -
 -
-
  -
    -
 -
 -
 -
Vila Maria/ Vila Guilher
    297.713





 11



 11
 1


 1
Cidade Tiradentes
211.501
3
1


2
 -
 -
 -
 -
 -
1


1
Jaçanã/ Tremembé
291.867
1
1



  -
 -
 -
 -
 -
1


1
Perus
146.046





 -
 -
 -
 -
 -
-
-
-
-
Santana/ Tucuruvi
324.815





 9



9
6
1

5
Vila Prudente/ Sapopemba
   531.113





10



10
-
-
-
-
Cidade Ademar
   410.998





-
-
-
-
-
-
-
-
-
Guianazes
   268.508





-
-
-
-
-
-
-
-
-
Fonte: Dados da Prefeitura Municipal e elaboração própria.  M = Municipal / E= Estadual / F= Federal/ P= Particular
Algumas considerações são importantes sobre a tabela anteriormente apresentada. As informações que foram possíveis estabelecer relações foram elaboradas em 2010 por meio de diversos instrumentos e fontes pela Prefeitura do Município. De qualquer maneira, a defasagem de dois anos (2010-2012) não modificam substancialmente os dados apresentados, nem em termos demográficos ou sobre os equipamentos culturais.  Também é importante termos presentes que o agrupamento das informações em torno das 31 subprefeituras não nos pode deixar de esquecer que existe inclusive em cada subprefeitura diferenças e desigualdades também acentuadas, em termos de equipamentos no caso das regiões que mantêm algum equipamento.
O setor público tem maior peso quando se trata de bibliotecas ou centros culturais. Os dados informam sobre a distribuição no território municipal do conjunto de equipamentos.
 Dois tipos de equipamentos culturais, segundo a função que desempenham no âmbito da cultura, podemos identificar: aqueles destinados sobretudo ao entretenimento, como salas de cinema, de teatro, casas de shows, salas de concertos; e aqueles voltados para atividades de fruição estética e conhecimento, como galerias de arte, centros culturais e museus. O padrão de maior dispersão espacial dos primeiros está provavelmente associado à existência de grande número de salas de cinema localizadas nos shopping centers, hoje presentes em grande número de regiões da cidade, e à localização de grandes salas de espetáculos, que têm sido instaladas fora do eixo tradicional centro/quadrante sudoeste do município.
A rede municipal de Centros Educacionais Unificados – CEUs introduziu uma alteração significativa no padrão de oferta de salas de teatro e cinema na cidade, pois moradores de bairros da periferia passaram a ter a possibilidade de freqüentar espetáculos até então disponíveis apenas nos bairros centrais ou naqueles de padrão socioeconômico mais elevado. Os CEUs são os equipamentos públicos que mais se estendem às regiões extremas do município, cujos moradores, em sua maioria, integram os segmentos caracterizados como de baixa renda. De qualquer maneira, como nitidamente verificamos na tabela acima, esses Centros Educacionais são pouquíssimos, inclusive inexistindo em várias regiões periféricas densamente povoada, como Guaianazes, Cidade Ademar... Os CEUS  podem ter papel estratégico como polos de apoio e difusão de  atividades culturais, inclusive com a ampliação de sua malha.
As Casas de Cultura também são importantes equipamentos públicos municipais, hoje com 19 unidades. São espaços para manifestações artísticas diversas e sua dispersão no território permite que mesmo os bairros distantes da área central da cidade tenham equipamentos desse tipo à disposição de sua população. No entanto, ainda são as regiões centro e sudoeste que concentram os centros culturais de maior porte e com melhor estrutura para sediar eventos artístico-culturais voltados para públicos mais amplos. Entre estes podem ser citados, na rede pública, o Centro Cultural São Paulo, o pavilhão Lucas Nogueira Garcez, mais conhecido como OCA, no Ibirapuera, o Complexo da Estação Júlio Prestes, o Memorial da América Latina, a Galeria Olido e a Casa das Rosas.
Outro aspecto importante a evidenciar nas informações da tabela acima é a questão do cinema. As salas de exibição existiam entre a década de 1930 e 1960 espalhadas por várias regiões que até então eram caracterizadas como operárias. Existiam 27 salas espalhadas pelos distritos de São Paulo: 08 no Centro, 06 no Brás, 02 no Bom Retiro, 01 na Moóca, 01 na Vila Mariana. A localização desses cinemas concentrava-se em regiões de características operárias na época. Na década de 1990, a cidade conheceu uma transformação importante na localização de suas salas de cinema. Salas que tinham  grande capacidade de público, localizadas em bairros diversos e também  no centro da cidade, foram substituídas por uma multiplicidade de salas menores localizadas, preferencialmente, dentro de centros comerciais. De acordo com os dados de 2010, das 332 salas de cinema na cidade, apenas 5 salas são públicas (municipal, estadual e federal), e a grande maioria é particular: 299 localizam-se em shopping centers e 28 são “cinema de rua”.
São Paulo dispõe de importantes acervos artísticos, históricos, etnográficos e culturais, preservados por um conjunto variado de museus, mantidos tanto pelo poder público como por iniciativa privada ou ainda por fundações (são 110 museus relacionados neste trabalho). Destacam-se pela qualidade das coleções que abrigam e pelo volume de público que recebem, o Museu Paulista (Museu do Ipiranga), o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Museu da Língua Portuguesa (Estação da Luz), a Pinacoteca do Estado (Estação da Luz), o Memorial de Resistência (Estação da Luz), o Museu de Arte Contemporânea (MAC), o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Memorial do Imigrante. No campus da Universidade de São Paulo, no bairro do Butantã, estão localizados vários museus com acervos técnicos especializados.
 O autoritarismo cultural da Gestão Kassab: prioridade aos interesses empresariais
 Nas duas gestões do atual prefeito foram ampliadas as tradicionais políticas culturais para a cidade. A concepção chave que se desenvolve na área Cultural é a que se articula como Cidade Turística – cultural e de negócios-, geradora de megaeventos voltada para a classe média local e população flutuante (turistas e executivos) e que dinamiza uma rede de serviços e negócios cada dia mais sofisticada. Não mais está voltada somente para as necessidades culturais de uma elite paulistana, concentradas nas regiões nobres da cidade, mas também se encontra orientada para executivos e turistas de diversas regiões do país e do mundo.
A juventude e a classe trabalhadora para ter acesso a tal produção exige-lhe deslocar-se nos finais de semana, pagando passagens de ônibus e metrôs caras e  ingressos caros de cinema, teatro e dança. A concepção da Administração Municipal e a dinâmica imposta pela Secretaria Municipal de Cultura impedem o desenvolvimento da área para a maioria da população porque prioriza os megaeventos empresariais, concentra os equipamentos culturais nas regiões nobres, prioriza incentivos culturais por meio da renúncia fiscal. Junto com isso é marca dessa gestão o caráter autoritário visto que não discute nem abre nenhum espaço de diálogo com os movimentos culturais na cidade.
Para demonstrarmos a nossa afirmação sobre a concepção cultural-turística da Administração Municipal, utilizamos as informações da própria Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla). A Prefeitura em parceria com outras entidades promove mais de 300 eventos anuais, dedicados aos mais variados temas. Dentre os eventos culturais, estão os seguintes: Virada Cultural, Mostra Internacional de Cinema, vários festivais temáticos de cinema,  Parada do Orgulho GLBT,  festas populares e religiosas, como as tradicionais Nossa Senhora da Achiropita, no Bixiga, e a Festa de São Vito, no Brás. Dentre os classificados  na categoria de lazer e cultura, aparecem, entre outros, a Maratona de São Paulo, a Corrida Internacional de São Silvestre, o GP Brasil de Fórmula 1, a Copa Paulista de Fórmula Truck, os desfiles e festividades de Carnaval. Sob a classificação de indústria criativa finalmente são lembrados: São Paulo Fashion Week; Couromoda – Feira Internacional de Calçados e Artigos Esportivos; GeoBrasil – Feira e Congresso Internacional de Geoinformação, ISA Show South America – Feira Internacional de Automação; Craft Design; Bienal Internacional de Arquitetura; Festa Internacional da Indústria do Cinema e do Audiovisual.
Esses megaeventos, alguns dos quais se misturam com a história da Cidade, estão diretamente associados ao turismo cultural e ao turismo de negócios.  Orientam-se pela concepção de cidade turística, associada diretamente aos serviços de hotelaria, gastronomia, casas de espetáculos, transportes fretados e negócios. Essa área do turismo cultural e de negócios hoje é geradora de número considerável de empregos. Esse argumento é o principal utilizado pela Administração Municipal no intuito de neutralizar qualquer crítica realizada a essa concepção de cidade. Na realidade é necessário evidenciar que, de fato, essa área cultural turística envolve-se diretamente com a alta lucratividade do setor e com  baixos e defasados salários dos trabalhadores da área.
A maior parte dos eventos é realizada sob a iniciativa privada, o que inviabiliza o acesso da maior parte da população, dado o valor dos ingressos. Contudo, mesmo aquelas iniciativas de caráter gratuito também são pouco acessíveis, porque são realizadas em áreas distantes da periferia e o custo do transporte público pesa no bolso do trabalhador. Basta lembrar que as principais áreas de exposições e eventos no município concentram-se na região Norte: o Parque Anhembi, o Sambódromo, o Expo Center Norte; Centro: o Pavilhão da Bienal, Av. Paulista e a Praça da Sé; ou Sul: o Centro de Exposições Imigrantes; enquanto boa parte da população trabalhadora mora na região Leste e Sul.
 As formas de resistência cultural ampliam-se na Cidade
 Existe uma representação social (ideológica) sobre as periferias de São Paulo e a população trabalhadora dessas regiões. Os meios de comunicação de massa prioritariamente (unicamente) destacam as imagens de violência, insegurança, drogas e grupos de narcotráfico. Transformam a imagem das periferias como imagem de faroeste americano. Duas dimensões  não são apresentadas  nessas representações. Primeira. De fato, a violência existente é decorrência da própria lógica capitalista de exclusão social e política, que tem como eixo principal a exploração. Ou seja, essa é a violência original que se desdobra em tantas outras violências sociais. É a violência do Capital contra o Trabalho. Segunda. Existe ainda assim inúmeras formas de resistência cultural por meio da ação cultural e educativa de milhares de professores das escolas públicas, de inúmeros artistas, Saraus, hip-hop, pagodes e tantas outras manifestações artísticas, de caráter  popular, que são produzidas na Cidade.
Nem tudo é violência, drogas ou pregações da Universal Reino de Deus, como se cristalizou na imagem sobre as periferias de São Paulo.  Existem também resistências culturais que precisam ser apoiadas e estimuladas que se espraiam difusamente nas ruas, vilas em grupos alternativos e emergentes. Uma criativa atividade humana aflora cultivada em emergentes movimentos culturais: organizações de jovens na periferia da cidade, grupos de teatro, de música, de poesia, arte na rua, eventos artístico-culturais. Por toda a cidade, pulsa vitalidade cultural, que constitui uma característica da própria metrópole paulistana.
Mas existe grande distância entre esse potencial cultural e a orientação das políticas públicas culturais desenvolvidas na Cidade.
Movimentos culturais que questionam a cultura de mercado e questionam também esse mundo desumanizado pela alienação gerada. Por que ingressos tão caros? Por que as atividades artístico-culturais são tão concentradas nas áreas consideradas “nobres” da Cidade? Por que são privilegiados com verbas da prefeitura apenas grupos e espetáculos que estão voltados para as “elites paulistanas”? Por que as verbas e equipamentos culturais não são descentralizados para atender as regiões periféricas?
Há anos, registram-se formas de resistência no centro da cidade e na periferia. O centro recebe sistematicamente artistas de rua que apresentam para o público suas performances. São estátuas vivas, palhaços, saxofonistas, guitarristas e malabaristas. Na periferia, espalham-se os saraus, núcleos de resistência inicialmente ligados à cultura do hip-hop e atualmente congregando artistas populares, que apontam novos caminhos, de arte experimental ou mesmo alternativa. Segundo Robinson Padial (Binho) em entrevista ao Brasil de Fato, os saraus são espaços onde a população pode se formar, se encontrar, participar e não se omitir. Em suas palavras: “No sarau você está livre e de frente pra todo mundo com sua poesia. Acredito que isso ajuda a nos fortalecer como ser humano”. Essas iniciativas não recebem qualquer apoio da esfera pública, muito menos de mídia, porque, em última instância, não gera retorno financeiro nem interessa ao capital privado.
Além disso, essas formas embrionárias de resistência popular vêm sendo objeto da mais impiedosa ação repressiva do Estado. Iniciada em dezembro de 2011, a “Operação Delegada”, um convênio entre a Polícia Militar, a Prefeitura Municipal e o governo do Estado de São Paulo, cujo objetivo principal é coibir e enquadrar o comércio ambulante ilegal nas principais vias de circulação vem perseguindo e impedindo a atuação dos artistas de rua.
Os saraus, por sua vez, são alvos da mesma prática repressiva. Sob a alegação de falta de alvará de funcionamento, a Prefeitura fechou e multou saraus conhecidos, como o do Binho, em Campo Limpo, o Bar Lua Nova, no Bixiga e o Sarau da Poesia na Brasa, em Brasilândia.

Nossas propostas na área cultural

A Cultura em nosso país, e claro, na cidade de São Paulo, está nas mãos da iniciativa privada; são os grandes bancos e as grandes empresas que decidem o que deve ser produzido em cinema, teatro, música, dança. No centro e nos bairros mais ricos se concentram os museus, os teatros, as galerias de arte. A prefeitura se dedica a fazer megaeventos superfaturados, que vão e vêm sem deixar nada de perene para a população. É urgente democratizar o acesso à Cultura, e para isso é preciso antes tirá-la das mãos do capital privado, com políticas culturais que enfrentem a mercantilização da cultura.

Desenvolver políticas culturais que priorizem os trabalhadores e a juventude com o objetivo de torná-los protagonistas de ações culturais no espaço da cidade por meio da constituição de polos culturais nas regiões periféricas do município, como também através da manutenção e ampliação dos equipamentos culturais existentes nas áreas centrais.
A Cultura deve ser considerada um serviço público, como saúde, educação, transporte, etc. e financiada pelo Estado de forma ampla, com orçamento próprio e compatível.
A área da Cultura deve ter uma ampliação substancial e fixada no orçamento do município de São Paulo, possibilitando desta maneira a execução de políticas culturais mais amplas voltadas para a classe trabalhadora e a juventude.
Exigir do governo estadual e federal recursos para área cultural compatíveis com as dimensões demográficas e recursos extraídos dos impostos da população.
Fim imediato da política de “renúncia fiscal” realizada pela Prefeitura Municipal de São Paulo e que isenta empresas e o setor privado por meio de abatimento. Esses recursos orçamentários são recursos que se originam dos trabalhadores, por meio de inúmeros impostos, e que devem retornar a eles através também da cultura. Chega de recursos orçamentários serem desviados para o enriquecimento de “empresários da cultura” e para o “merchandising” das empresas e instituições financeiras.
O Municipal é nosso! Não à privatização do Teatro Municipal de São Paulo. 
Fomento à produção cultural no município, tendo como eixo central o aporte financeiro público com a definição de leis de fomento setoriais para Cinema, Dança e expressões culturais emergentes.

Pela valorização e ampliação da Lei de Fomento ao Teatro. Em São Paulo existem cerca de 400 grupos teatrais ativos, mas apenas 13 são beneficiados. Os outros se debatem sem dinheiro para sobreviverem. A Lei de Fomento ao teatro foi elaborada pelos artistas de teatro e vem ajudando este setor a avançar muito. Por isso, estamos junto a todos os artistas de teatro, defendendo essa lei, mas exigindo sua ampliação para que todos os grupos sejam beneficiados.

Educação artística em todas as escolas municipais.Toda criança tem de sair da escola formada em pelo menos um instrumento musical ou uma habilitação artística, seja nas artes cênicas, visuais ou pictóricas.
Constituição e manutenção das já existentes Escolas de Arte Municipais, nos centros históricos como também ampliação para as diversas regiões da Cidade, que possibilitem  formação e capacitação sistemática, metódica e técnica em distintas áreas artísticas já consagradas como também em áreas artísticas emergentes.
Basta de perseguição política que Kassab realiza contra os grupos artísticos e culturais no Município, ao exemplo dos Saraus Paulistanos, hip-hop, rock garagem, os artistas de rua e diversas manifestações populares.
 Valorização e ampliação dos CEUs e de toda rede de equipamentos culturais. Ampliação dessas unidades para as regiões periféricas. Controle das verbas e de sua administração por parte da comunidade. Desenvolver a ocupação e manutenção de espaços públicos tornando-os efetivamente equipamentos culturais para produção, criação, discussão e fruição: praças, bibliotecas, centros esportivos, casas de cultura, escolas, universidades, creches, prédios abandonados e do patrimônio histórico.
Ampliar o número de funcionários por concurso público e qualificá-los para a ação pública no campo da cultura. Que possibilitem a gestão e fluidez das atividades culturais estabelecidas nas regiões de São Paulo.
 Estímulo à atividade cultural realizada nas regiões da Cidade, desde às culturas tradicionais até as culturas emergentes e contemporâneas, com  destaque aos Festivais de Cultura e atividades de Cineclubismo.
 Preservação das obras artísticas dos parques e jardins da cidade.
“Revitalização” urbanística do centro histórico de São Paulo, considerando centralmente os modos de vida da população trabalhadora local que mora e trabalha nas regiões centrais da cidade. Como também as formas de ocupação e aproveitamento dos prédios e espaços públicos abandonados na região. Repensar o patrimônio público local, revitalização do centro de São Paulo não é “higienização” e sim uma questão social e cultural! Não aos interesses especulativos imobiliários e comerciais envolvidos! Que sejam expropriados pelo Estado os prédios que há décadas não pagam IPTU!
Constituição do Conselho Municipal de Cultura, estruturado por representantes de Conselhos Locais de Cultura, com a participação de  grupos organizados da população, produtores culturais e representações de trabalhadores, com a tarefa de manter a execução e acompanhamento do Plano Municipal de Cultura.
Congresso Municipal de Cultura como instância deliberativa, reunindo os vários setores e movimentos culturais para diagnosticar e constituir uma proposta de política cultural municipal com diretrizes, orçamento destinados para as áreas e regiões, equipamentos culturais, possibilitando a constituição de polos culturais nas diversas regiões da cidade. Esse congresso deve resultar de amplo debate nas regiões por meio de assembleias de Conselhos Locais de Cultura e Conselho Municipal de Cultura.
Toda liberdade em arte! Liberdade total a todas as correntes artísticas, com apoio financeiro e espaço para que possam se manifestar!



(Núcleo de Cultura PSTU da Regional São Paulo)

03/09/2012





[4] Foram incluídos em Fundos ligados à Cultura: Fundo Especial de Promoção de Atividades Culturais, Fundo de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural, Fundo de Proteção do Patrimônio Cultural e Ambiente Paulista, e, por fim, a Fundação Catavento, que recebeu verbas de 2007 a 2009. Em março/2009, o Estado de São Paulo (Secretaria da Cultura e da Educação) assume a condução dos trabalhos do Catavento.

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