quinta-feira, 27 de março de 2014

POR UM TEATRO LIVRE E COMBATIVO

 

Neste DIA INTERNACIONAL DO TEATRO relembramos a luta tão importante de todos os artistas do mundo por uma arte livre e independente de qualquer tipo de imposição, seja ela ideológica ou econômica, e a necessidade premente da revolução socialista para liberar o homem e a arte dessas amarras. Esse é o espírito deste manifesto.


Nunca a civilização humana esteve ameaçada por tantos perigos quanto hoje. Os bandidos capitalistas, com o auxílio de seus meios bárbaros,  estão destruindo tudo o que existe de mais humano e belo sobre a Terra. Sobre os escombros de uma cultura milenar, o que sobrevive são os valores mais ignóbeis: o egoísmo, a concorrência, o ódio, o preconceito, a ganância. Neste tempo de guerra, de genocídio e limpeza étnica, a situação do teatro tornou-se absolutamente intolerável.

Porque é impossível desinteressar-se das condições mentais nas quais o artista trabalha; não é mais possível garantir o respeito às leis específicas a que está sujeita a criação intelectual.

O mundo atual nos obriga a constatar a violação cada vez mais geral dessas leis, violação à qual corresponde um aviltamento cada vez mais patente da obra de arte e da personalidade “artística”.

A arte verdadeira, a que não se contenta com variações sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades interesses do homem e da humanidade, tem de ser revolucionária, tem de aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade, para permitir a toda a humanidade atingir o máximo de suas potencialidades intelectuais.

Não dá mais para esconder: só a revolução social pode abrir a via para uma nova cultura.

A mercantilização à qual a arte está sujeita hoje merece a mais firme reprovação do mundo artístico, porque estamos diante da negação desavergonhada dos princípios aos quais a arte sempre obedeceu; ela deve dar lugar a uma condenação implacável da parte de todo o teatro mundial.

Em cada palco, em cada camarim, em cada coxia, a oposição artística deve florescer. Porque ela é hoje uma das forças que podem contribuir para o descrédito e ruína dos regimes que destroem o teatro, os mesmos que destroem o direito da classe explorada de aspirar a um mundo melhor e todo sentimento de grandeza.

A luta pela dignidade humana não teme a arte. Os artistas mais conscientes, antenados com o que ocorre nas ruas de nossas cidades, aqui e em todo o mundo, encontram aí a seiva de seu teatro.

Lembremos as palavras do velho Marx: “O escritor deve naturalmente ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas não deve em nenhum caso viver e escrever para ganhar dinheiro. O escritor não considera de forma alguma seus trabalhos como um meio. Eles são objetivos em si. A primeira condição do verdadeiro teatro consiste em não ser um ofício. É preciso brandir essa declaração contra aqueles que pretendem sujeitar a arte a fins alheios a ela, como são as imposições do dinheiro, desprezando a liberdade artística e impondo os temas da arte.

A livre escolha desses temas constitui para o artista um bem que ele tem o direito de reivindicar como inalienável. Em matéria de criação artística, importa essencialmente que a imaginação escape a qualquer coação.

Nenhuma autoridade, nenhuma coação, nem o menor traço de comando! Os diversos grupos e coletivos teatrais, aqui e no mundo inteiro, só podem desenvolver um trabalho fecundo na base de uma livre amizade criadora, sem a menor coação externa, sem a menor atadura, seja ela econômica ou política.

Ao defender a liberdade de criação, não pretendemos de forma alguma  justificar a alienação, o horizontalismo político, a indiferença perante a realidade e os problemas com que nos defrontamos. E longe está de nosso pensamento querer ressuscitar uma arte dita “pura” que, na verdade, acaba servindo aos objetivos mais do que impuros da reação.

Não, nós temos um conceito muito elevado da função do teatro para negar sua influência sobre o destino da sociedade. A tarefa suprema do teatro em nossa época é participar consciente e ativamente das lutas de todos os povos do mundo, que se levantam por um mundo melhor.

No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior.

Viva o teatro! Que todos os pobres e explorados do mundo possam assistir teatro, possam amá-lo e compreendê-lo e, assim, lutar para salvá-lo das garras da burguesia e da ganância capitalista.

São Paulo, 27 de março de 2014
DIA INTERNACIONAL DO TEATRO

HOMENAGEM DO GRUPO CENA LIVRE, da CSP-Conlutas